Editorial
Não existe "mas" para o racismo
O último final de semana esportivo foi marcado pela repercussão mundial dos ataques sofridos pelo jogador brasileiro Vinícius Junior durante partida de seu clube, o Real Madrid, contra o Valencia, que sediava a partida em seu estádio. A exemplo do que vem acontecendo em outros jogos de La Liga, o campeonato de futebol da primeira divisão da Espanha, o atleta passou a ser alvo de insultos racistas com origem nas arquibancadas. Revoltado ao ouvir os gritos de "mono" (macaco, em espanhol), desta vez entoados massivamente, o atacante foi à linha de fundo, à frente dos torcedores do time da casa, chamando atenção para o absurdo que ocorria. Absurdo que tornou-se ainda pior depois que foi expulso de campo em meio a uma discussão com atletas do Valencia.
As imagens e sons dos gritos racistas, àquela altura transmitidos ao vivo para dezenas de países, ganharam ainda mais projeção com a revolta coletiva que uniu desde outros atletas e ex-atletas mundialmente conhecidos até lideranças políticas, incluindo uma manifestação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista coletiva na reunião de cúpula do G7, no Japão.
O episódio com Vinícius Junior, embora grave e com repercussão maior diante da relevância do jogador - é hoje um dos principais do planeta, atuando por clube da dimensão do Real Madrid -, não deixa de ser apenas mais um. E isso é gravíssimo. Como dito, o próprio Vinícius tem enfrentado o racismo diariamente. Seja em diferentes estádios da Espanha ou nas redes sociais, é impossível o brasileiro ficar alheio aos ataques. Contudo, desta vez, fica escancarado diante da equivocada - para dizer o mínimo - cobertura da imprensa espanhola sobre o caso, ao tratar a situação como suposto resultado de provocações do atacante à torcida.
Não existe "mas". Ao buscar justificativas ao injustificável e que não atinge apenas Vinícius Junior e outros jogadores, mas muita gente anônima, a imprensa, parte da sociedade e dirigentes esportivos - como o próprio presidente de La Liga, Javier Tebas, ligado ao partido de extrema-direita Vox, que defende limpeza étnica no país - fortalecem tais posturas condenáveis de quem entende arquibancadas e internet como espaços apartados da sociedade, onde seriam aceitáveis o racismo, a homofobia e a xenofobia, por exemplo. Aliás, brasileiros estão sendo cada vez mais discriminados na Europa por conta de suas origens e cor da pele. Portugal, até pouco tempo paraíso para quem queria sair do Brasil, vem se transformando em campo fértil à xenofobia.
A esse tipo de comportamento contra Vinícius Junior e qualquer outra pessoa, brasileira ou não, só podem ser aceitáveis como reações o repúdio, condenação pública de cidadãos, imprensa e autoridades e, principalmente, pesadas punições aos autores e incentivadores. Caso contrário, o racismo e outros crimes seguirão disseminado em estádios, nas ruas, na imprensa, na política. Em Valencia, em Lisboa, em Pelotas…
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